As recentes mudanças em nossas rotinas oportunizaram a geração de novos modos de operacionalização de nossas funções. Com isso, pudemos perceber, já nos primeiros dias, duas respostas: Uma de satisfação, quando o trabalhador conseguiu com facilidade adaptar-se a nova rotina, criou e aplicou novas estratégias e como consequência colheu bons resultados, logo suas emoções foram positivas. Outra de insatisfação, quando a reorganização não foi facilmente implementada e consequentemente seus resultados foram negativos tendo queda em sua produtividade, bem como emoções negativas surgiram, atrapalhando ainda mais o fluxo de suas rotinas. Junto a isso, vivem as incertezas do mercado, da saúde pública mundial, dentre tantas outras.
Diferente da realidade de muitas empresas, a nossa permanece favorável, pois atuamos no fornecimento de insumos básicos para as agroindústrias, para a produção de alimentos, com isso estamos mantendo bons resultados financeiros e de relacionamentos. Nossos colaboradores estão tomando os devidos cuidados e mantendo-se saudáveis, unidos e preocupados com a saúde e bem estar do outro. Falando em bem estar e união da equipe, nestes momentos é que percebemos: o quão fortes somos diante aos desafios que surgem, justamente pelas pessoas que formam a equipe Vetanco!
Desta forma, hoje, as nossas angústias, possíveis preocupações, nossos desequilíbrios emocionais não estão relacionados com uma realidade trágica da empresa. Mas sim, do medo do incerto, do futuro, do que pode vir a acontecer, com a empresa, com nossos familiares e amigos. Além disso, o que tem gerado desconforto se relaciona com a adaptação de nossas rotinas, nestes dias em casa, ou com a retomada lenta das mesmas.
Sempre que temos que criar algo, buscar novas maneiras de fazer aquilo que já funcionava bem, ou seja, lidar com o daqui para frente, podemos enfrentar situações de desconforto, ansiedade, euforia e medo. Então, mesmo sabendo que nossa empresa está bem hoje, muitos de nós, nos primeiros desafios que surgiram, já apresentamos sintomas desfavoráveis, distúrbios digestivos, sonolência, dores no corpo, na cabeça, sudorese e batimentos cardíacos acelerados. Sendo estas, possíveis respostas de pensamentos e emoções disfuncionais.
E porque sentimos estes desconfortos? Porque estamos diante uma situação complexa, pois não sabemos os próximos dias como serão. Com isso, o papel do Setor de Gestão de Pessoas vai além da empresa, além do negócio, a situação atual nos pede maior atenção e cuidado a cada indivíduo pertencente a nossa empresa.
Com base em uma pesquisa realizada com os nossos colaboradores, coletamos as informações necessárias para termos a certeza da necessidade citada no parágrafo anterior. Com isso, organizamos uma reunião online, onde todos fizeram-se presentes, para aprendermos juntos algumas técnicas para lidar com a ansiedade gerada pelo momento atual. Foi um encontro enriquecedor para todos.
Quando nos deparamos com desastres deste porte, devemos olhá-lo como crise, e este pode ser compreendido como a interrupção do estado normal de funcionamento, resultando no desequilíbrio do sistema, econômico, familiar, de uma comunidade, ou seja, onde todos são afetados, independentemente de estarem associados diretamente ou não ao evento. Junto com a crise mundial, ou situacional, muitas pessoas podem entrar literalmente em crise, definida como uma situação que excede a capacidade emocional de resposta positiva da pessoa, pois o imprevisível incomoda, desequilibra e silencia o nosso sentimento de poder. Isto é, seus mecanismos de enfrentamento são insuficientes, ocorrendo desequilíbrio e incapacidade de adaptação psicológica ao momento vivenciado.
Mas, embora algumas manifestações psíquicas sejam desfavoráveis, em determinados momentos elas são percebidas como uma resposta esperada, como por exemplo em uma situação de luto pela perda de um familiar, respostas como tristeza profunda, choro excessivo, apatia, dentre outras, são vistas como adequadas ao processo da vivência. Mesmo que seja, no momento, uma reação vista como adequada, devemos prestar a devida atenção ao indivíduo e seus sintomas, pois se estes prolongarem-se podem resultar em uma situação psicopatologia.
Portanto, cada avaliação deve ser feita no contexto dos fatos, determinando se podem ser interpretadas como respostas “normais ou esperadas” ou, pelo contrário, podem ser identificadas como manifestações psicopatológicas que requerem uma abordagem profissional.
Para nos atentarmos a alguns sintomas que determinam se uma manifestação emocional está se tornando sintomática são: período/tempo de manifestação; sofrimento intenso; complicações associadas; comprometimento significativo do funcionamento social e cotidiano.
Mas se a pessoa está em manifestação considerada normal, fluxo normal de rotinas, as situações de desastres, as crises, trazem a possibilidade de realmente se pensar fora da caixa. O sujeito consegue analisar: O que eu fazia? Como posso unir o meu conhecimento prático, das coisas que eu costumava fazer no meu dia a dia, com o meu conhecimento técnico? E além disso, com as ferramentas atuais apresentadas nestes últimos dias que desenvolvi meu trabalho?
Como podemos lidar com esse momento e os próximos, com menos sofrimento? Pensamos que o primeiro passo é sabermos identificar nossas emoções. E isso não é tão simples, a maioria das pessoas sentem muita dificuldade, ou acham que estão ótimas, lidando super bem e até mesmo aptas a ensinar os outros a enfrentarem situações difíceis, quando na verdade no dia a dia demonstram grande instabilidade e precisam de suporte emocional constante.
Não tem como falar de emoção, sem falar de pensamentos e comportamentos. Nossos pensamentos, sentimentos, emoções e comportamentos estão conectados. Ou seja, logo que observo algo, um pensamento surge em minha mente, produzindo uma emoção e um comportamento. Os pensamentos automáticos são aqueles que surgem em nossas mentes sem que haja um processo de análise ou verificação, apenas reforçam alguma crença que nós temos. Esses pensamentos, que também são chamados de erros cognitivos, podem ser positivos ou negativos.
Um exemplo seria, orientarmos à você leitor que não pense em um peixe no aquário! Fica difícil não pensar, certo? Agora, pense no seu peixe fazendo alguma coisa, imagine ele fazendo o que você quiser… Cada um optará por algo diferente, fará o seu peixe nadar, dançar, esconder-se… O que aprendemos com este exemplo é que sobre o nosso primeiro pensamento nós não conseguimos ter controle, mas podemos desafiar nosso pensamento, reformulá-lo, adequá-lo à realidade. Mudando o pensamento, mudamos o sentimento. Trata-se do pensamento desafiador, da reestruturação cognitiva, que é o processo no qual você desafia os padrões de pensamento negativo que contribuem para sua ansiedade, para o seu medo, sua limitação, substituindo-os por pensamentos positivos e principalmente realistas.
As crenças são grandes influenciadoras de nossos pensamentos, são representadas por todas as ideias que você viu, ouviu ou concluiu e acabaram se tornando uma verdade absoluta para você. Tudo o que o indivíduo fizer, a forma como ele pensa, sente e age, é resultado de suas crenças, e é justamente por isso que muitas pessoas agem de formas diferentes em situações idênticas. São exemplos de crenças limitantes: Não tenho tempo para nada. Não sou bom o suficiente. Não consigo aprender. Não sei como resolver esse problema. Eu sou muito velho para isso.
O primeiro passo para vencer as crenças limitantes é identificá-las. E a maneira mais eficaz de se fazer isso é pegar o papel e caneta e anotá-las. Como um exercício. O segundo passo é identificar a origem desta causa, quando ela surgiu e porque, quais os sentimentos que ela gera em você. O terceiro passo é identificar o objetivo que se tem com toda essa análise, o que você quer alcançar. Muitos “travam” nesta hora, pois se estou fazendo toda essa análise é porque tenho um objetivo e posso voltar ao pensamento de: “não sou bom o suficiente”, “não sou capaz”, “isso nunca vai mudar”, “eu vou adoecer”. Todos temos crenças positivas e negativas, todos precisamos fazer esse resgate com certa periodicidade.
Outro exercício interessante é o de identificação de seus pensamentos, emoções e comportamentos. A ideia é de que após identificado um pensamento disfuncional, o sujeito consiga reformulá-lo, com a adequação necessária e baseada na realidade, para obter como consequência emoções e comportamentos mais adequados. Aplicamos este exercício em nossa reunião virtual e convidamos você a também realizá-lo! Verás como esta identificação o ajudará nas situações do dia a dia e no enfrentamento de possíveis crises.
Por: Géssica Letícia Oltramari
Psicóloga Organizacional e do Trabalho
Vetanco Brasil